Martin Buber, judeu nascido na Áustria em 1878, era teólogo, jornalista e professor universitário, fundou um centro de ensino judaico em plena Alemanha nazista e acreditava na coexistência pacifica entre judeus e árabes. Aplicando na Pedagogia seus conceitos usados em defesa da paz, Buber tem no diálogo a base de seus pensamentos.
Mais importante no processo educativo do que o sucesso individual é a relação do eu-tu – seria o saber relacionar-se de forma interpessoal, privilegiando a conversa e a cooperação entre crianças. Essa relação só é possível se houver diálogo, pois é do diálogo que valoriza o processo de aprendizagem no ser humano.
Na visão de Buber o outro, o tu, é visto com admiração pela criança desde que ela começa a vivenciar o mundo. A referencia para a percepção de seus próprios limites em relação a suas fantasias e ilusões sobre a sociedade que a cerca será o tu. Gradualmente a criança se percebe como sujeito imperfeito e dependente do tu, das relações – mentais ou sociais. É esse “tu” que vai ajudar na construção do “eu” na criança.
A vivencia com o outro leva o individuo ao impulso de criação, existente para suprir sua necessidade de criar coisas e a si próprio. No entanto a unilateralidade da criação pode levar a criança que não reflete o que faz a se tornar egoísta e consequentemente a não se constituir plenamente.
Entretanto a criança não deve ter por finalidade um ter, a obrigação, mas um fazer bem pensado, uma ação consciente, o prazer da realização.
O papel do professor é ser mediador e interlocutor desse diálogo na gestação do eu. Cabe ao educador ensinas que a valorização da criatividade e do sucesso só ocorre quando estes estão associados à consciência da participação e à necessidade de reciprocidade.
As críticas de Buber estão voltadas ao aprendizado conquistado de formas mecânicas, através de exercícios e aos pedagogos que valorizam e acreditam que o ensino envolve apenas o desenvolvimento intelectual. Ele prioriza o desenvolvimento da habilidade de se relacionar com os outros, respeitando a individualidade dentro da multiplicidade de inclinações e instintos em cada criança e afirma que” a criança quer ser o sujeito do processo de produção (construir ou destruir, apalpar ou bater, etc)” e que realizando por si mesma ela cria o novo.
Segundo Maria Betânia (1), “Buber admite a existência de disposições prévias; relacionadas às capacidades de perceber, imaginar, dar sentido ao mundo, e que fazem parte da nossa singularidade”.
O autor Marcos Gomes relata que para o pensador crianças movida pela paixão de espírito produzem a linguagem. Seguindo então os períodos da teoria de Piaget sobre do desenvolvimento cognitivo da criança veremos que a aquisição de conhecimento ocorre através do desenvolvimento de certas habilidades, como a linguagem e o desenho, passando para o pensamento lógico e chegando à abstração e raciocínio com realismo a cerca do futuro, confirmando assim as afirmações de Buber.
De acordo com Piaget, o papel da ação é fundamental ao desenvolvimento da criança, já que a característica essencial do pensamento lógico é ser operatório, permitir o prolongamento da ação interiorizando-a, formando na criança inteligências inventivas e críticas.
Em suas obras Martin Buber revela sua consciência da importância do diálogo para que a verdade seja estabelecida, pois ele acreditava que no diálogo como a única relação verdadeira e autêntica do ser humano. Isso é fruto de sua influencia filosófica herdada desde sua adolescência onde desenvolveu:
– Com Kant a consciência de que não existe verdade absoluta.
– Com Nietzche a percepção da verdade fragmentada, em flashes, frases poéticas.
Na perspectiva de Paulo Freire(2) o diálogo é um ato de criação e recriação, de coragem e de compromisso, de valentia e liberdade, pois numa relação horizontal entre educador e educando esse diálogo procura a conquista do mundo para a libertação dos homens. Freire apresenta essa relação dialógica para a eficácia de uma pedagogia crítica e transformadora.
Marcos Gomes destaca a tônica humanista das idéias de Buber, onde a consideração pelo outro é essencial na construção do conhecimento, o que inspirou outros pensadores e deu novos rumos à filosofia.
Ao retornar ao espírito do diálogo Socrático Buber exerceu grande influencia ao movimento de renovação da educação no qual a corrente da filosofia existencialista afirmava a existência da criança, aqui e agora, em constante formação. É na construção do ser, do eu que o diálogo se encontra, sendo ele uma das necessidades incorporadas à pedagogia contemporânea.
Morin em “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, diz:
“... a interligação de toda a humanidade, esse fenômeno que estamos vivendo hoje em que tudo está conectado, é um outro aspecto que o ensino ainda não tocou... informação que não conseguimos processar e organizar... é importante orientar e guiar essa tomada de consciência social que leva à cidadania para que o indivíduo exerça sua responsabilidade.”
Autor da Teoria das Inteligencias Multiplas, Howard Gardner, em seu livro “Inteligências Múltiplas Ao Redor Do Mundo” enfatiza que os educadores devem conhecer ao máximo a individualização de cada um de seus alunos e usar a pluralização nas diferentes maneiras didáticas (jogos, debates, exercícios práticos, etc.) para um melhor aproveitamento das inteligências múltiplas em sala de aula.
Gardner afirma ainda que as revoluções atuais (globalização, biológica e digital) afetam a maneira de ensinar e de aprender, e que isso irá interferir na forma de pensar a educação no futuro. Mais do que nunca é necessário que as crianças aprendam a usar o seu poder de comunicação, inclusão, compreensão e cooperação com o outro, ou como diz Buber, com o eu. Para que isso ocorra é fundamental a orientação no exercício do diálogo.
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1 - Maria Betânia do Nascimento Santiago, professora da Faculdade da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em sua tese Diálogo e Educação: O Pensamento Pedagógico em \ Martin Buber, que resume toda a obra do pensador.
2 - Paulo Freire , em trecho do livro: Pedagogia do Oprimido (36.ª ed. Rio de Janeiro: Edições Paz e Terra, 2003), explicando a importância e necessidade de uma pedagogia dialógica.
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REFERÊNCIAS
GOMES, Marcos. Um teólogo que pregava o diálogo. Revista Nova Escola, ed. 225. Editora Abril, Setembro / 2009, p.28 e30.
GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. São Paulo: Ática, 2001. p. 156,160,162 e 163.
BARROS, C.S.G.. A Teoria de Jean Piaget. In.: Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. Capítulo 11 Desenvolvimento Cognitivo: Piaget e Bruner., ed. 12. São Paulo: Ática, 2005, p.101-109.
ZENTI, Luciana. É difícil fazer o certo se isso contraria os nossos interesses: entrevista com Howard Gardner. Revista Nova Escola, ed. 226. Editora Abril, Outubro /2009
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Esse texto é uma resenha feita por Nilc Rodrigues de Assis :
TÍTULO:UM TEÓLOGO QUE PREGAVA O DIÁLOGO: Filósofo judeu sugere que os professores ensinem os jovens a conviver com o próximo§
AUTOR:Marcos Gomes§
FONTE: Revista Nova Escola, edição 225 - Editora Abril§
DATA: Setembro / 2009§
PÁGINAS: 28 e30§
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